Artigo

Como a China escapou da teoria de choque

Por João Neutzling Jr
Economista, Bacharel em Direito, Mestre em Educação, Doutorando em Sociologia, Auditor estadual, Professor e pesquisador - [email protected]

A China sempre inspirou curiosidade e temor no mundo ocidental dadas suas dimensões continentais e sua capacidade e resiliência de enfrentar e superar as adversidades históricas.

Um dos principais arquitetos da modernização chinesa e sua inserção soberana no mercado mundial foi Deng Xiaoping (1904-1997), que governou a China no período 1978-1990, quando implantou um sistema econômico misto com empresas estatais e privadas, mas tudo sob regulação do partido comunista chinês, único permitido. Uma economia de mercado sem democracia.

Desde seu governo, a China tem se tornado uma potência econômica planetária que vai "comendo pelas beiradas" sem muito alarde e, principalmente, sem guerras com outros países.

Em 2020, a China era o maior exportador do planeta com vendas da ordem de 2,59 trilhões de dólares e era o segundo maior importador (depois dos EUA) com valor de 2 trilhões de dólares. Em 2021 o volume de comércio exterior chinês superou a marca de 6 trilhões de dólares.

Em 2023, o Central Bank of the People's Republic of China (Banco central chinês) detinha a maior reserva cambial do planeta da ordem de 3,18 trilhões de dólares. Sendo que mais de 90% deste numerário está alocado no financiamento da dívida pública dos EUA da ordem de 31,4 trilhões de dólares. Ou seja, sem a poupança chinesa cai o castelo de cartas do Tio Sam (maior devedor do planeta).

Mas como se explica todo este sucesso da China? Diversos livros e centenas de artigos acadêmicos já procuraram responder. Mas agora vem a lume nova obra de sobeja importância sobre o tema: Como a China escapou da teoria de choque (editora Boitempo, 2023) da lavra da notória Isabella M. Weber que é professora da University of Massachusetts Amherst.

Na obra de 477 páginas, a autora explora em nove capítulos todo o esforço chinês de emular o modo de produção capitalista adaptando às suas necessidades.

Nos primeiros capítulos, a obra apresenta uma revisão da evolução econômica chinesa mostrando o governo de Mao Tse Tung no período de 1949 até 1976.

No capítulo 4 a autora explora a questão do controle de preços em um país comunista onde a lei de oferta e demanda era vista com desconfiança pelos comunistas.

A China em 1950 era um país extremamente pobre, agrário, com pouca produção industrial. Havia um dilema entre "o sal e o ferro", ou seja, atender às demandas de alimentos de uma população imensa versus alocar recursos para a industrialização nacional.

Sem poupança financeira doméstica suficiente para impulsionar o desenvolvimento, e com o receio de recorrer ao endividamento externo, o governo de Xiaoping permitiu a instalação de centenas de empresas estrangeiras em solo chinês, mas com rígidos controles tributários e cambiais. Além do compromisso de transferir tecnologia. Destarte, é comum comprarmos produtos manufaturados aqui no Brasil com o slogan made in CPR ou China Popular Republic.

Impossível não lembrar do fracasso econômico da URSS desde 1990 e sua insignificância econômica mundial enquanto sua irmã de regime comunista conseguiu fazer uma transição bem sucedida para uma economia de mercado com preços livres que orientaram a alocação eficiente de recursos.

A obra concluiu que a economia de mercado pode funcionar em harmonia com o planejamento a intervenção reguladora do estado, sendo o caso chinês o maior exemplo.

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